quarta-feira, 22 de julho de 2015

I Plenária Livre de Conselhos Regionais de Saúde e Movimentos Sociais.


Os Conselhos Regionais de Saúde da Região Centro Sul do Distrito Federal (Candangolandia, Núcleo Bandeirante, Riacho Fundo I e II) reuniram-se com o Comitê da Marcha de Mulheres Negras, o Movimento Negro Unificado, Pretas Candangas, representantes do Governo do DF, embaixadas, estudantes de saúde da LS Enfermagem, estudantes da área da saúde do Instituto Federal de Brasília (IFB), da Universidade de Brasília (UnB) e também de outras faculdades, a ONU e a comunidade em geral. A reunião se deu embaixo do Viaduto João Goulart, no Núcleo Bandeirante -DF. A escolha do Local foi uma sugestão da presidente do Conselho Regional de Saúde da cidade sede, os grupos em princípio não apoiaram a ideia, mas perceberam que a intenção era dar visibilidade ao evento e legitimar o espaço que por excelência é ocupado por “minoria”, como pessoas em situação de rua, com a presença marcante da raça negra, pauta do encontro: "Racismo Faz Mal a Saúde?". A presidente do CRS e também coordenadora do Fórum de Conselhos Regionais do DF, Maura Lúcia G. dos Anjos, abriu a roda de conversa agradecendo a presença de todas/os. Lembrou que todo o diálogo iria constar em um documento para ser encaminhado à IX Conferência de Saúde do DF, à XV Conferencia Nacional de Saúde e à Marcha Nacional de Mulheres Negras. Logo após cedeu a palavra à jornalista e representante do Movimento Negro Unificado, Jacira Silva, que lembrou que a autodeclaração da raça pode ajudar a identificação do quantitativo real de afrodescendentes no Brasil e, como consequência, ajudar no tratante a políticas públicas com qualidade para uma população que, com certeza, é maioria no país. Seguiram-se as apresentações e o tema racismo foi lembrado como no relato de um pai de uma criança, ainda na alfabetização, que sofreu preconceito por causa da cor da pele na escola. O mesmo afirmou que os professores não sabem acolher essas demandas por falta de capacitação. Seguiu o relato citando a dificuldade do primeiro emprego para jovens negros e pediu o fim da discriminação. Juliana Cezar jornalista, relatou a discriminação em hospitais públicos, nos quais jovens negras/os são neglicengiadas/os em detrimento do atendimento a jovens brancos. Lembrou que a ideia inicial é que, ao dar entrada em setores de emergências na rede pública, os profissionais fazem juízo de valor e sentenciam a vítima de cor negra à morte por entenderem que ali está um “bandido e tem que morrer mesmo”.A participante pede que informações sobre o comitê de Saúde da População Negra e solicita que o racismo institucional seja combatido. A embaixatriz da República dos Camarões disponibilizou ajuda para as próximas plenárias que serão realizadas nas sete Regiões de Saúde do DF e afirmou que o que nos separa é também o que nos aproxima. Patologias como anemia falciforme, considerada doença genética e hereditária predominante em negros, tem cura. O transplantado de medula óssea, senhor Elvis Silva Magalhães, que está curado após 40 anos de sofrimento, solicitou apoio para divulgar informações sobre os sinais, sintomas e tratamento da doença e ressaltou que a informação o salvou. A estética como empoderamento foi citada por muitas/os participantes, lembrou-se das crianças que, sem poderem manifestar-se, são obrigadas por seus responsáveis a submeter-se a tratamentos químicos para alisarem os cabelos. Um participante sugeriu que se instituísse uma lei protegendo a criança, conforme existe para tatuagem, que é autorizada apenas a partir de determinada idade. Rita Cruz, presidente da ONG MAMI do Riacho Fundo I, afirma que sucesso do evento não está no número de participantes, mas no evento ter acontecido quebrando paradigmas. Lembrou-se do sofrimento psicológico que o racismo proporciona e a desesperança em jovens e adultos, citou a conquista de outros seguimentos e reafirma que o movimento é para todos. Deise Benedito lembrou-se da origem do povo brasileiro e da forma em que as/os negros chegaram ao país, à invisibilidade sofrida pela cor da pele por parte de profissionais de saúde, do comércio e da mídia está respaldada no imaginário coletivo de que ser negro é ser sujo e marginal. Lembrou que este tratamento diferenciado promove adoecimento da essência do ser humano, ressaltou uma dificuldade maior de ser negra/o e jovem no Brasil e lista de forma cronológica a morte desses jovens: na escola, onde são obrigadas/os a sentar no fundo da sala; nas festas culturais, como a festa junina, na qual a criança negra nunca é a noiva da festa. Afirmou que as/os jovens negras/os morrem por falta de acesso, de tratamentos contra dependência química, por serem suspeitas/os (potencializado pela raça), pela falta de políticas educacionais que reafirme ou não as diferenças. Lembrou-se da falta de pessoas da raça negra em espaços de destaques na sociedade, na mídia entre outros. Waldiceia Moraes, representante do coletivo de mulheres religiosas, relata a falta de mulheres em funções de liderança nas igrejas evangélicas. Cita que nas organizações religiosas as mulheres, principalmente as negras, estão na cozinha, na higienização dos ambientes e nunca em espaços de poder. As mulheres de organizações religiosas negligenciam a busca de tratamentos por transferirem a cura única e exclusiva a um ser superior ou divindades que cultuam e por terem dificuldade em aceitar que os profissionais de saúde ás abordem para consultas e exames. Relembra a solidão das mulheres encarceradas que, por terem famílias em associações religiosas, temendo discriminação dos seus pares, não revelam a existência destas parentas e acabam abandonando-as à própria sorte. Por fim entendemos a necessidade urgente de capacitação dos profissionais de todas as áreas principalmente da Saúde, frente situações racistas e preconceituosas e que a escuta esteja atrelada a ações de responsabilização.

Brasília, 13 de Junho de 2015.




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